O
Tempo que não se perdeu
Pablo Neruda
Não se contam as ilusões
Nem as compreensões amargas,
não há medida para contar
o que não podia acontecer-nos
o que nos rondou como besouro
sem que tivéssemos percebido
o que estávamos perdendo.
Perder
até perder a vida
É viver
a vida e a morte
Não são
coisas passageiras
Mas sim
constantes, evidentes,
A continuidade
do vazio,
O silêncio
em que cai tudo
E por
fim nós mesmos caímos.
Ai! O que esteve tão cerca
Sem que pudéssemos saber.
Ai! O que não podia ser
Quando talvez podia ser.
Tantas
asas circunvoaravam
As montanhas
da tristeza
E tantas
rodas sacudiram
A estrada
do destino
Que já
não há nada a perder.
Terminaram-se os lamentos.