sexta-feira, 19 de junho de 2015

Por uma sociedade democrática- popular.

Por um projeto democrático-popular de sociedade
Gildo Alves Bezerra
      Não há como construir uma sociedade livre, justa e solidária sem uma educação republicana, pautada pela construção da autonomia, pela inclusão e pelo respeito à diversidade. Fazem mister essas reflexões, principalmente, no momento que estamos preste a aprovar os planos estaduais e municipais de educação. Então, apresentaremos alguns recortes de elaborações oficiais e de teóricos para a construção do que se denomina como educação para as relações etnicorraciais.
       Autoras e autores demonstram, a partir de suas pesquisas e produções, que o racismo tem sido reprodutor de desigualdades sociais na sociedade e que a base dessa reprodução tem uma força muito grande na infância. Então, jamais devemos pensar na elaboração do Planos Estaduais e Municipais de Educação sem levar em conta essa questão. Caso contrário, estaremos sendo coniventes com o Racismo Institucional através da educação.
      Mas, para revertermos o quadro de Racismo institucional tão presente na educação e para democratizar a educação, é preciso mobilizar toda a sociedade.
      Essa mobilização deve-se ao MEC, por intermédio Secad e de outras secretarias, tem a missão de promover a união de esforços com os governos estaduais e municipais, ONGs, movimentos sociais, sindicatos, associações profissionais, instituições de pesquisa, contando com a colaboração de organismos internacionais, para ampliar o acesso, garantir a permanência e contribuir para o aprimoramento de práticas e valores que respeitem, reconheçam adequadamente e privilegiem a diversidade de experiências étnico-raciais nos sistemas de ensino.
    §2º Os Processo de elaboração e adequação dos planos de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, de que trata o caput deste artigo, serão realizados com ampla participação de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil. (artigo 8º da lei nº13. 005/2014).
      Faz necessário a ampliação no campo das políticas públicas, das produções cientificas e das práticas na educação escolar. O conhecimento sobre a cultura e história africana, afro-brasileira e indígena e a abordagem fundamentada adequada com a valorização do protagonismo negro e indígena e seus repertórios culturais: africanidades e ameríndias na história da humanidade, do Brasil e em suas regiões podem contribuir para a construção do que se denominou como Educação para as Relações Etnicorraciais. Educação essa que preconiza a valorização equânime (igual) de todos os povos e suas ancestralidades na construção das sociedades. Visto que, a forma como as crianças negras e indígenas têm sido tratadas na educação escolar contribui para o fracasso escolar, o que se torna elemento de reprodução da desigualdade.
     Assim, o racismo no Brasil tem o resquício da escravidão e suas estratégias ideológicas de justificação, mas a estratégia de reprodução que perdura pela ausência de políticas públicas de combate e de promoção da equidade (igualdade) para os povos negros e indígenas. E se reproduz até a atualidade nos diversos meios e instrumentos sociais, tais como pela mídia (A negação do Brasil), pela indústria de brinquedos, cosméticos, pela ausência ou deturpação de imagens na propaganda, no mundo da moda, na televisão (A negação do Brasil), nas músicas, no material didático, entre outros meios.
      Em 2001 tivemos, A conferência de Durban, que tratou de um amplo leque de temas, entre os quais vale destacar a avaliação dos avanços na luta contra o racismo, na luta contra a discriminação racial e as formas correlatas de discriminação; a avaliação dos obstáculos que impedem esse avanço em diversos contextos; bem como a sugestão de medidas de combate às expressões de racismo e intolerâncias.
     Após Durban, no caso brasileiro, um dos aspectos para o equacionamento da questão social na agenda do governo federal é a implementação de políticas públicas para a eliminação das desvantagens raciais, de que o grupo afrodescendente padece, e, ao mesmo tempo, a possibilidade de cumprir parte importante das recomendações da conferência para os Estados Nacionais e organismos internacionais.
    Então, é neste contexto a criação da lei 10.639/03 e da lei 11.645/08, que modificam a lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional – LDB, tornando obrigatório o ensino da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena nos currículos escolares são frutos das lutas políticas construídas pelos Movimentos Sociais Negros e indígenas e que para se consolidar na prática pedagógica necessita da consolidação de compromisso por parte de diversas instancias da sociedade, a saber Estado, Sociedade Civil e, especialmente da formação compromissada dos sujeitos do cotidiano escolar, A luta é por reconhecimento da participação ativa dos povos africano, indígenas e seus descendentes no Brasil para formação sócio-histórica e cultural brasileira.
    Faz mister assim, considerar que o reconhecimento da história e cultura africanas, afro-brasileiras e indígenas é condição para a redução das desigualdades e consequentemente o fortalecimento da igualdade. Essa é a contribuição da educação para as relações etnicorraciais para a verdadeira democratização de nossa sociedade.
     O interesse pela questão racial negra, quando existiu, foi primeiro comprometido com a idéia de caldeamento/assimilação que serviu de base à ideologia do branqueamento físico e cultural da nação por meio da imigração européia. Em segundo momento, o mito da democracia racial deu base para a construção do discurso da unidade entre brancos, negros e índios, que encobriu as hierarquias e as discriminações constitutivas das relações entre brancos e não-brancos. Após os anos 50, o problema racial aparece como tema menor da chamada questão social, explicado na chave do conflito social e político entre as classes
    O processo de redemocratização em curso marca uma mudança significativa no tratamento da questão, agora étnoco-racial negra com o ressurgimento de reivindicações a partir de um movimento negro organizado nas principais áreas urbanas do país. É desse período a publicação de trabalhos acadêmicos que questionavam, entre outros problemas, a existência de uma associação imediata e direta entre preconceito e escravidão, como legado histórico e mostravam como a discriminação racial era plenamente compatível com a ordem capitalista industrial. Apontavam também que os indicadores de renda e educacionais de pretos e pardos eram similares, permitindo o agrupamento desses dois segmentos em uma única categoria de análise “negro”, que passou a ser assumida nas políticas públicas.
    Os questionamentos são sobre a própria atuação do Estado, em seus diferentes níveis, a partir de uma revisão ampla da forma como os negros apareciam e, ainda hoje, aparecem retratados na história do Brasil. Princípios que servem também para a visão sobre os indígenas no país. Então, coube questionar desde a imagem presente nos livros didáticos, passando pelos termos pejorativos usados nos textos e chegando aos conteúdos ministrados nos cursos de formação de professores. De forma mais ampla, os questionamentos se dirigem à necessidade de mudança radical na estrutura curricular dos cursos em todos os níveis, modalidades e etapas do ensino que desconsideram ou simplesmente omitem a participação africana, afro-brasileiras e indígenas na construção do conhecimento em diferentes áreas das ciências.
    Então, promover a igualdade vale mais do que combater a discriminação. Promover a igualdade significa que o Estado deve agir preventivamente, positivamente, adotando todas as medidas para que a igualdade jurídica se traduza em igualdade na prática; igualdade de oportunidades e de tratamento.
     Mas, sem orçamento, política pública é mera intenção. Logo, O Estatuto da Igualdade Racial prevê que os orçamentos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios devem separar recursos para os programas e ações de promoção da igualdade.
     Percebemos que se trata de uma regra fundamental e da maior importância porque política pública não pode ser reduzida a declarações nem aprovações de leis. A execução da política pública requer formulação, planejamento, execução e monitoramento.
     Portanto, ao planejar políticas públicas, em qualquer área de atuação, o gestor tem obrigação de destinar parte dos recursos à promoção da igualdade racial; Por outro lado, as organizações sociais têm a obrigação de acompanhar os debates sobre planos plurianuais, leis de diretrizes orçamentárias anuais, visando assegurar a inclusão de programas de promoção da igualdade.
    Logo, fazem necessárias essas e outras reflexões, principalmente, no momento que estamos preste a aprovar os planos estaduais e municipais de educação. Devemos promover a valorização e o reconhecimento da diversidade étnico-racial na educação brasileira a partir do enfrentamento estratégico de culturas e práticas discriminatórias e racistas institucionalizadas no cotidiano das escolas e nos sistemas de ensino que excluem e penalizam crianças, jovens e adultos negros e indígenas e comprometem a garantia do direito à educação de todos e todas.
“A Educação é a arma
Mais poderosa que você
Pode usar para mudar
O Mundo”.

Nelson Mandela

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