domingo, 29 de março de 2015

Abdias Nascimento: Uma vida militante

Uma vida dedicada à defesa da população negra
O jornalista, ativista1 e ex-senador da República, Abdias Nascimento – falecido em 2011 aos 97 anos – , é referência quando o assunto é igualdade racial. Nascido em 1914 na cidade de Franca, localizada no interior de São Paulo, Abdias teve uma trajetória longa e produtiva: participou do movimento integralista, passou pela Frente Negra Brasileira2, foi pioneiro em iniciativas no campo da cultura e ainda hoje é um militante ativo no movimento negro.
Foi indicado em 2009 ao Prêmio Nobel da Paz em função de sua defesa pelos direitos civis e humanos dos afrodescendentes no Brasil e na diáspora africana.
Bacharel em economia, artista plástico3, ator e diretor teatral, criou na década de 1940 o Teatro do Sentenciado4, embrião do futuroTeatro Experimental do Negro (TEN)5, iniciativa pioneira no país. O TEN  revelou alguns dos talentos da dramaturgia nacional como as atrizes Ruth de Souza e Léa Garcia.
Foi professor emérito da Universidade do Estado de Nova York e acumulou títulos de Doutor Honoris Causa nas seguintes instituições de ensino superior: Universidade de Brasília, Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual da Bahia e Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É também Obafemi Awolow na Nigéria.
Na carreira jornalística, foi repórter do Jornal Diário e revisor do Jornal O Radical (1936). Foi também repórter do informativo da Ação Integralista Brasileira. Entre 1946 e 1948, atuou como repórter e colunista do Diário Trabalhista. Em 1947, na época em que o Rio de Janeiro era a capital do país, filiou-se ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (o atual Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro).
Em 1948, fundou com os amigos Sebastião Rodrigues Alves, Ironides Rodrigues e Aguinaldo Camargo o jornal O Quilombo6, cuja missão era atrair cada vez mais a comunidade negra na produção. A publicação funcionou como um canal de expressão de grupos sociais que não tinham voz nas fontes tradicionais de informações.
Na sua luta pelos direitos civis e humanos de negros e negras brasileiro/as, Abdias Nascimento organizou eventos históricos como o 1º Congresso do Negro Brasileiro (1950) e a Convenção Nacional do Negro (1945-46), que propôs à Assembléia Nacional Constituinte de 1945 políticas afirmativas e a definição da discriminação racial como crime de Lesa-pátria.
Após a promulgação do Ato Institucional Nº 5 (1968), Abdias foi incluído em diversos inquéritos policiais militares, acusado de fazer a ligação entre o movimento negro e a esquerda comunista. Ao ser convidado para fazer um intercâmbio com o movimento afro-americano, Abdias optou pelo exílio e ficou 13 anos fora do país.
Das inúmeras homenagens recebidas ao longo da sua trajetória, destacamos, em 2006, o a mais alta honraria concedida pelo Governo do Brasil, a Ordem do Rio Branco no grau de Comendador, entregue pelo então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2008, o Conselho Nacional de Prevenção da Discriminação, do Governo Federal do México, lhe ofereceu um prêmio em reconhecimento à contribuição destacada à prevenção da discriminação racial na América Latina.
O Ministério do Trabalho, em 2009, concedeu-lhe a Grã Cruz da Ordem do Mérito do Trabalho Getúlio Vargas. No mesmo ano, Abdias recebeu o Prêmio de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo e o Prêmio de Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil.
À Abdias Nascimento, nosso Axé!!
Acesse aqui discurso do senador Abdias Nascimento sobre os 110  anos de Lei Áurea, em 13 de maio de 1998.
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 1 O Dia do Ativista, comemorado em 14 de março, homenageia Abdias Nascimento, nascido nesta data, e a todos/as os/as ativistas brasileiros.
 2 Segundo o pesquisador Márcio Barbosa (1998), a Frente Negra Brasileira foi criada em 1931 em São Paulo, tornando-se partido político em 1937. O grupo fundou o jornal A Voz da Raça.
 3 Durante seu exílio nos Estados Unidos (1968 a 1978), Abdias, desenvolveu-se na arte da pintura como uma forma de refúgio. Inspirado no culto aos Orixás, sua pintura nos traz uma reflexão atual e profunda sobre princípios tais como a justiça, a paz, o poder e a guerra.
 4 Foi um projeto de vanguarda onde os presos criavam e encenavam seus próprios textos. A idéia foi desenvolvida por Abdias e outros detentos durante o período em que o ex-senador cumpriu pena em Carandiru por  ter resistido a agressões racistas (1943).
  5 Criado em 13 de outubro de 1944, o TEN nasceu com o apoio com apoio de várias pessoas, entre elas o advogado Aguinaldo de Oliveira Camargo, o então estudante de Direito Ironides Rodrigues, o pintor Wilson Tibério, o funcionário público Teodorico dos Santos e o contador José Herbel. Mais do que encenar peças, o TEN marcaria a vida cultural e política do país. A primeira peça encenada pelo TEN foi O Imperador Jones de Eugene O'Neill, ganhador do prêmio Nobel de literatura, em 1936 que abriu mão dos direitos autorais para a produção do espetáculo no Brasil.
 6 Circulou no Rio de Janeiro entre dezembro de 1948 e julho de 1950. Retratou o que foi o ambiente político e cultural de mobilização anti-racista brasileira. Em 2003, as edições foram lançadas no formato fac-símile.


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