sexta-feira, 21 de junho de 2013

reflexão


Os perigos do discurso apartidário
Paulo Victor
 
Cores e símbolos dos partidos devem marchar livremente
Impossível atualizar a coluna esta semana e não escrever sobre as manifestações de rua que acontecem por todo o país. Porém, ao mesmo tempo em que expor a opinião sobre os atos desses últimos dias parece ser um dever, é também uma dificuldade enorme, afinal são inúmeros e bastante distintos os aspectos que poderiam e mereciam ser aqui discutidos.
Resolvi, portanto, escrever sobre o que mais tem me inquietado até aqui: alguns atos e posturas de repúdio à presença dos partidos políticos nas mobilizações.
Não me refiro ao já conhecido discurso dos meios de comunicação comerciais. Não é qualquer novidade que esses meios – que sempre “tomam partido” - atuem para que a sociedade aprofunde o seu caráter individualista, fragilizando ou até criminalizando a organização coletiva. Tratarei aqui de práticas que têm ocorrido no interior das próprias ações de rua, influenciadas, em certa medida, pelo próprio discurso midiático.
Em várias cidades, durante os atos públicos, não faltaram hostilidades a partidos políticos. Gritos de “Fora PT” ou queima de bandeiras e camisas do PSOL e PSTU foram (e estão sendo) bastante comuns nas atividades dos principais centros urbanos do país. Essas atitudes carregam um falso discurso de que o sucesso das mobilizações depende do seu caráter “apartidário”.
Se a motivação desses discursos e práticas é um descontentamento e crítica à diminuição da capacidade de mobilização social dos partidos – crítica e auto-crítica que devem ser feitas permanentemente -, ações como essas são bastante perigosas, pois podem despertar um sentimento autoritário e ditatorial de proibição da organização coletiva. Impede-se a presença dos partidos no primeiro momento, depois a participação de movimentos sociais, entidades estudantis e centrais sindicais, até mais a frente garantir-se a proibição de duas pessoas reunidas, tornando as ações cada vez mais individualizadas e as lutas cada vez mais individualistas.
Não podemos esquecer que o fechamento ou a ilegalidade dos partidos políticos sempre foi uma das principais marcas de regimes anti-democráticos. Uma das primeiras medidas de Hitler na Alemanha nazista e de Mussolini na Itália fascista foi a extinção dos partidos políticos.  Aqui no Brasil, em 1937, Getúlio Vargas também acabou com os partidos e, mais recente, a Ditadura Militar os colocou na ilegalidade.
Não podemos esquecer também que o discurso apartidário é um discurso contra a esquerda brasileira. Afinal, são os partidos de esquerda que, historicamente, têm as manifestações de rua como um método de reivindicação e luta por direitos. Ou seja, o discurso apartidário serve apenas aos grupos econômicos e políticos que desejam manter o status quo e que se veem ameaçados com qualquer possiblidade de mudança estrutural da sociedade.
Como disse acima, as críticas a qualquer partido político podem e devem ser feitas, bem como cabe aos partidos realizar de forma cotidiana e sincera a reflexão e a auto-crítica.
Porém os que se arvoram no discurso apartidário não podem ser injustos com a história e julgá-la apenas a partir das suas próprias aões. Antes de irmos às ruas, outros milhares de brasileiros e brasileiras foram às ruas, reivindicaram nas ruas. Muitos morreram reivindicando nas ruas. Ou melhor, para que hoje possamos ir às ruas foi fundamental a ação coletiva desses outros. E aqui não podemos negar: os partidos políticos foram essenciais para o processo de organização, articulação, mobilização e, principalmente, educação política desse povo que foi às ruas.
E mais: a centralidade dos partidos políticos para a transformação da realidade não foi superada. Ainda hoje são os partidos políticos – aliados às associações, coletivos, sindicatos, entidades estudantis, movimentos sociais e populares – que dão organicidade, capilaridade e consequência às ações de rua. São os partidos políticos que, junto aos demais agrupamentos listados acima, formulam e disputam projetos de sociedade e de país.
Por isso, a presença de bandeiras e camisas partidárias não deve ser encarada como uma ameaça à diversidade, pluralidade ou potencial das mobilizações, mas, por outro lado, deve ser reconhecida e afirmada.
Em Aracaju, amanhã (20) acontecerá um ato público semelhante aos que têm ocorrido por todo o país. Desejo que, diferente do que tem caracterizado algumas das manifestações em outras cidades, por essas terras as cores e símbolos dos partidos estejam marchando livremente junto aos trabalhadores e estudantes que estarão nas ruas.
No ato de amanhã, é desejável (e necessária) também outra postura da Polícia Militar de Sergipe que, diferente da polícia de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, deve respeitar o direito à livre manifestação e não agredir nenhum trabalhador ou estudante.

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